
O cabelo natural voltou a ser notícia desde o bum da transição capilar. As semanas de moda, trouxeram várias tendências de beleza, entre elas o cabelo cacheado e crespo com muito volume e textura bem natural e leve. Pois é, agora o cabelo natural que era motivo de piada quando eu tinha uns 10 anos de idade, é tendência. Inclusive já tem até nome gourmetizado, algumas pessoas chamam de Boho Hair e outras de Effortless Hair. Mas basicamente é a mesma coisa, são fios naturais que secaram sozinhos, com frizz natural e sem preocupação com definição perfeita.
O cabelo natural não precisa ser tendência para ser lindo

Uma frase se repete constantemente nas redes sociais, entre milhares de comentários, de mulheres de cabelos crespos e cacheados: “Finalmente chegou o meu (nosso) momento! ”
Essa frase reacende um alerta, na verdade, é como um gatilho para mim. Pois parece que nós mulheres de cabelo afro precisamos de permissão do mercado da beleza para sermos naturais e nos sentirmos bem com isso. Mas a verdade é que NÃO, NÃO PRECISAMOS!
Não me entenda mal, a valorização do cabelo natural, onde se celebra o volume, a textura, a liberdade, é linda e necessária. Mas aqui na revista CHARME-SE nós temos o compromisso com o autocuidado responsável, então precisamos sim levantar questões importantes como: Isso é só uma tendência passageira ou a valorização verdadeira de uma característica que por muito tempo foi criticada? Nós realmente precisamos de uma tendência do mercado para nos dar permissão para sermos nós mesmas?
O mercado não pode ditar nossa beleza, É A GENTE QUE DECIDE!

Eu cresci odiando meu cabelo natural, pois quando eu era criança eu não tinha acesso a produtos específicos para cacheadas. Todo mundo à minha volta falava que o meu cabelo era ruim e a única opção que eu tinha quando ia a algum salão era alisar. Depois de adulta, graças ao movimento da transição capilar eu me dei uma nova chance, e sozinha me reconheci. Bom, não posso dizer que foi completamente sozinha, porque as experiências de outras mulheres me ajudaram muito também. Mas foi uma decisão minha, entende? E foi uma das melhores decisões que eu tomei na vida, porque foi um processo de cura e autoconhecimento maravilhoso, pela primeira vez eu me vi e me amei.
Com a onda de tantas mulheres aceitando seus cabelos naturais, o mercado da beleza sentiu, e esse, querida charmosa, é um mercado muito lucrativo que envolve bilhões. Segundo o relatório da McKinsey & Company, só em 2022 o mercado de beleza (skincare, fragrância, maquiagem e cabelo) gerou aproximadamente US$ 430 bilhões. O mercado brasileiro de cuidados capilares está estimado em US$ 6,71 bilhões em 2025, com expectativa de crescimento para US$ 8,58 bilhões em 2030. Então, com isso, muitas marcas investiram pesado em produtos para cabelos afro. Hoje em dia são tantas opções que dá até para se perder. Mas é claro que quem acompanha as resenhas aqui da revista está sempre um passo à frente e faz as melhores escolhas. Mas o ponto em que quero chegar é de que resumir a sua vida a uma tendência é perder a sua essência.
A beleza verdadeira não está no que o mercado dita, mas no que você escolhe viver, sentir e ser.
Hoje o mercado está dando hype para o cabelo natural, mas amanhã pode não ser assim. Então, quando isso mudar, você vai deixar de se amar e de se achar linda? Você não é uma tendência, você é uma mulher incrível, com um cabelo único e uma trend não pode definir você. O cabelo afro é resistência, é ancestralidade, ele sempre foi poder e nunca vai deixar de ser.
Autocuidado é um ato político! Cuidar de si mesma e se olhar com carinho é honrar suas raízes e o mundo não pode apagar isso. Por isso, que a relação que você tem com seu corpo, seu cabelo, seja sempre um ato de liberdade e respeito.
O cabelo, ou até mesmo o corpo, não precisa de encaixar em padrão nenhum, apenas na sua própria felicidade. Afinal, ele é arte, é poder, É VOCÊ!





